29 de set. de 2009

Simple Past

Eu teria te amado para sempre, escrevi uma vez inspirada naquela moçinha, não tão moçinha, de um filme que toda vez que eu vejo me faz chorar. Realmente eu poderia ter te amado para sempre naquele meu imaginário bobo de paixão adolescente que até hoje faz rima. E assim, eu que nunca falo de mim, estou aqui agora falando de ti.
Início meio e fim, tudo em ti foi naufrágio, poderia dizer num tom bem trágico relembrando Pablo Neruda. Mas naquela época, se bem me lembro bem estava mais para Florbela Espanca correndo pelas ruas como uma louca a cada chamado teu esperando que viesses me ver a tardinha. Enfim, como já escrevi uma vez, tempo demais, amor de menos.
E porque falar de você, quando nem ao menos falo de mim? Ah, porque naquela tarde de mágicos cansaços você me deu um beijo e me desejou feliz ano novo na beira da praia. E me lembro muito bem que deitado na rede você pediu meu telefone e apagou outro de outra garota qualquer e eu me senti especial.
Encontros e desencontros depois, o mesmo sorriso, a mesma pinta, a mesma fala macia e eu a mesma continuava amando cada vez que o abraço encaixava. E ainda sabendo que não era assim tão especial, fazia de você meu pierrot de carnaval. Início de rimas, amassos e desamassos e pela primeira vez, tudo em ti foi naufrágio.
Mais uma vez, mais um encontro, o mesmo sorriso, a mesma pinta e a mesma fala macia, como não continuar amando cada vez que o abraço encaixava. Vai e vem, e como a moçinha do cinema esperava você se tocar, "Oi eu gosto de você"! Sem pressa, sem medo, em vão, esperei, esperei até que vi a água entrando, e me dei conta que de novo, tudo em ti seria naufrágio.
E porque estou falando de você, quando nem ao menos falo de mim? É que a vida vem em ondas como o mar, e eu lavei minha alma na água da praia. Assim, mais um encontro, a mesma pinta, a mesma fala macia e olha só, o abraço ainda encaixa. Minha mão ainda transpira quando toca na sua e você ainda lembra que minha mão toca na sua transpirando, e assim só pra atiçar você segurando minha mão e eu transpirando como tinha que ser. Você reclamando que eu não pareço mais a mesma e me acusa de agir como a moçinha do cinema, e eu logo de cara percebo que você um pouco mais alto, continua tão igual, diria que quase o mesmo.
E assim eu falo de você, também falando de mim, e é bom lhe olhar e ver que de verdade, longe de ser adepta a jogos e estratégias, há tempos eu não sou a moçinha do filme, e desde de muito não te amaria mais para sempre.

28 de set. de 2009

Commitment




Ele sorriu. Aquele riso contido de canto de boca numa sinceridade tímida que as vezes até assusta de tão honesto. E ficou ali rindo e olhando como se fosse bobagem, mas era bem sério e nem se sabia o porque. Ele sorriu e pegou na mão dela daquele jeito que dizem que serve pra passar segurança de que ele tava ali, mas Ela tão segura de si nem notou, o riso, nem a mão, nem o canto da boca. E ficaram ali, rindo assim sem notar a mão que corria pegando em cada poro latente da pele. Ela não estava pronta, ele também não, e isso não fazia muita diferença. O cabelo bagunçado preso num coque sem forma fazia do momento mais bonito, ou era o momento que fazia o coque mais bonito. A ordem dos fatores não alterava o produto, e era tudo assim tão bonito e sincero feito uma daquelas pinturas do Monet tentando gravar a luz do jardim dos fundos de sua casa.

Nada ali fazia muito sentido, e não era pra fazer mesmo. A felicidade saltava como bolhas de cava numa autêntica sangria espanhola com direito a dançarinas de flamenco e toureiros vestidos de vermelho e ouro. O sol brilhava forte, e ela pegou os óculos escuros pra proteger os olhos do sol. Ele também. As mãos continuavam juntas, e juntas seguiram estrada adentro sem se importar com o que se passava fora. Estavam juntos, mas seria junto mesmo ? Ou aquele junto sem compromisso que some depois de um certo tempo, ou um certo momento, ou uma certa pessoa. Ela tava cansada daquele junto separado, e não queria se envolver. E vinha o sorriso, o canto de boca e mão percorrendo todos os poros, e ela ali sem saber o que fazer.

27 de ago. de 2009

Sweet Night




Ele pagou a conta e saíram, brilho no olho, sorriso no rosto e uma noite toda pela frente. Pararam num desses lugares onde namorados com carros vão, nada de especial além da lua minguante sorrindo iluminada e ainda assim toda aquela vontade de beijar enquanto houvesse mundo.
Ela afagou-lhe o cabelo como se fizesse aquilo desde de sempre enquanto ele a puxava pela cintura quebrando o ritmo dos dedos entre os fios. Beijos, sussurros, desejo e todos aqueles movimentos conhecidos de conquista. Calor, o vidro fumê embaçado e tudo seguindo como deveria ser.
No vidro formavam-se gotículas de vapor, e ar dentro do veículo tinha aquele jeito de sexta a noite, mas era terça-feira 22:45 e os gatos ainda não eram pardos. A lua minguante minguava todas as possibilidades, espera aí, calma, e mesmo assim eles continuaram naquele esforço bobo de brigar contra todos os sinais que diziam parem.
Ele havia pagado a conta, e ela desenhou toda uma noite de carinho, açúcar de confeiteiro e suspiros. Surreal talvez mas aqueles olhos castanhos a inspiravam e ela imaginava que seria doce. Surpresa. Beijos, sussurros, desejo e todos aqueles movimentos conhecidos de conquista. Brilho apagado, nada de amor dourado derretendo-se na boca.

26 de ago. de 2009

Make a wish




Eles se entreolharam e pensaram no que dizer. As palavras pairavam no ar, mas não conseguiam se juntar em frases e formar períodos. Mais do que uma simples questão de semântica, uma oração não dita mais forte que um credo ou até um pai nosso.
Eles continuavam se olhando, um silêncio, ausência de som incômoda que amplificava cada ruído numa magnitude de Cinemascope. E então, eis que num desvio dos olhos um enxerga a si no outro e todo aquele momento ganha um novo significado resplandecente como ouro ao sol. Brilho dourado, no meio da noite que fica clara como o dia para os dois.
Eles se olham e um sorriso doce surge no lábio rosado do sangue que pulsa num ritmo frenético pelo corpo. Explosão. O olhar se trasnforma em toque e de repente uma mão procura a outra como tendo medo de se perder, porto seguro, e os barcos então guardam as velas e ancoram.
Eles se beijam e o mundo então ausente de sentido, ganha uma nova direção. Seguindo a velha lei da física, os opostos se atraem, pólos positivo e negativo, yen e yang, numa cadência tão perfeita quanto de uma sinfonia de Mozart. Gosto molhado, desconcertado. A música continua e eles também.

15 de ago. de 2009

Londres, 29 de setembro de 2008.




É fácil sentar e esperar por mudanças. Esperar que o tempo mude, que o vento sopre e que o sol volte a bater lá fora. É mais fácil culpar o presidente pelo menino passando fome, pelo lixo na rua, ou Deus pelo câncer no pulmão.
Complicado mesmo é sair na rua, sujar o pé na poça d'água, remar o barco e andar até a lixeira para jogar o papel da bala.
Porque quando de pequenos culpamos nossos pais, adultos o governo, quando será que assumiremos alguma responsabilidade ?

23 de jul. de 2009

Piggybank




A crise cruzou o caminho.

Cruzes !

Comida




Eu assim tão ninfeta
Faço a cama, ponho a mesa
Cheia de amor pra dar.

Finjo manha, abro sorriso
E até me faço de difícil
Só pra conquistar.

E vem você, sobremesa
Fala macia, surpresa
Pronta a me devorar.

27 de jun. de 2009

Nailpolish

Ela mudou a cor do esmalte, penteou o cabelo diferente e saiu com um sorriso no rosto. Nada demais, nada de menos, mas uma vontade de viver e sentir o novo a flor da pele como o vento batendo no rosto com sabor de fruta madura. Ela mudara a cor do esmalte, e comprou novos livros, leu todas as orelhas tentando absorver o máximo de conhecimento possível, tudo novo, de novo. E assim, como um cameleão se camuflando na paisagem, ela saiu a procura de novos amigos, novas vidas. Era a hora de agarrar o touro pelos chifres e dominá-lo. Sem saber, ela havia mudado a cor do esmalte e mesmo assim todo mundo soube que aquele rosa forte não era comum, nada de normal, nada de bizarro. E as horas passaram, os dias e a semana também. O rosa já não era mais o mesmo, ela já não era mais a mesma. Mais uma demão do cintilante numa tentativa boba de capturar aquele momento para sempre. Riu, foi em vão, nada que um pouco de acetona não resolvesse. Então, removida a camada, ficou aquela pequena tela em branco distribuída entre os cinco dedos de cada mão, e com ela mais um milhão possibilidades, mais milhão de novidades e todo o tempo do mundo pra usar.

16 de jun. de 2009

Desencontro




Guardei uma carta tua
Achei-a um dia desses,
Entre fotos antigas
E pétalas de rosas secas
Reli tuas palavras,
Idéias concatenadas
Em rimas
Que hoje em dia,
São pobres e sem sentido
Fomos apenas mais um erro
do atrapalhado cupido.

15 de jun. de 2009

Memórias de uma anoréxica

Há não muito tempo atrás um dia, em meio ao emaranhado de idéias eu lhe encontrei, luz altiva que me guiava pelos caminhos tortuosos. Você me ajudava tomar decisões, escolhas; a compreender que uma bolacha ao invés de duas, meia cenoura eram melhores que um cheeseburguer, não porque este último é mais calórico, mas porque essa opção me faria mais feliz. Andava em direção à sua luz, porque não sabia fazer de outra forma, qualquer outro caminho me levaria ao abismo e estava fadado ao fracasso. Sua luz me purificava, me trazia alegria e realização. Oh, Luz altiva, que me ajudava a discernir o certo do errado, o querer e o não querer. Me guiava pela sua certeza e segurava minha mão no momento de descontrole. Luz Imaculada, transformou-me em seu anjo guerreiro e lutei por sua causa até o fim, carregou-me junto a sua perfeição e me converteu em sua imagem e semelhança. Aplacou a ânsia de minha alma e trouxe a felicidade plena que tanto busquei.

Ainda que esta fosse a última opção, e ainda que fosse de fato insanidade, desistir não era uma possibilidade, apesar de tudo, era essa a realidade. No final de contas, tudo se resumia em quantos quilos foram perdidos e quantas calorias eram ingeridas. E mesmo que dissessem que estava tudo bem, e mesmo que tudo estivesse bem. Havia o abismo, o vazio e o nada; e também os fantasmas seculares que atormentavam nas noites frias. Suspiros errantes murmuravam verdades não ditas, palavras mal ditas que não deixavam serem esquecidas. Rimas antigas retornam, mas eram atenuadas pela doce brisa que soprava. Luz, pureza e sensibilidade, tudo o que faltava para sobrepor a mediocridade. O vazio inexplicável, e por mais que se tentasse não era preenchido.

Mais um dia, mais uma refeição, aflição que não acabava. Auto controle, poder sobre si mesmo, busca infindável pela perfeição que nunca chegava, porque menos era sempre mais e o céu, o limite. A gordura imaginária escondendo a verdade, criança lutadora que dissimulava a fraqueza por trás da força fingida. Fugir ? Impossível, cada segundo se traduzia na corrida contra a balança. Por que o peso? Porque a única liberdade que restava era a liberdade do corpo. Ele era meu e ninugém poderia interferir, no entanto, em oposição a isso, existiam todos os papéis e todas as máscaras utilizadas no cotidiano, e sim, elas sufocavam. Na busca pela essência, pelo real, perdi-me em mim mesma e as barreiras foram transpassadas. Medo? Jamais. As asas construídas não deixariam cair, existia a leveza para voar.

E nesse emaranhado de idéias eu me perdi, quebrei minhas asas, e caí, caí, caí até chegar no chão. É lá fiquei um bom tempo exorcisando todos os fantasmas perdidos da noite. E quando menos esperava tudo pareceu tão simples, tão bobo. Eu em mim, me bastava. Levantei, e segui em frente.

14 de jun. de 2009

Ontologia




Amar-te,
Esse dever-ser,
Disfarçado
De imperativo categórico
Que corre na veia
E a alma incendeia.

12 de jun. de 2009

Prisão





Vou te encolher,
e guardar num potinho
Porque assim miudinho,
Tu não vais me deixar

Vou te colocar,
Num desses potes
coloridos de balas,
ou no da goibada açucarada
E nunca vais me escapar.

11 de jun. de 2009

Wild Horse




Abri meu coração de vagarzinho,
De medo, pequenininho,
Sem saber amar você.
Que chegou, a cavalgada,
Entrou em disparada
E eu apaixonada,
Sem saber o que fazer.

4 de jun. de 2009

Os Outros




É fácil culpar os outros. É simples dizer que chegou atrasado porque o ônibus demorou, ou que a nota da prova foi baixa porque o professor é carrasco ou que engordou porque no mundo moderno a quantidade de gordura saturada nos alimentos é altíssima. Vivemos nessa sociedade paternalista, assombrados eternamente pelo dilema hegeliano do senhor e escravo, porque mesmo que tenhamos acesso à liberdade, será que a queremos de fato? Já diriam os ensimentos budistas que a ignorância é uma dádiva, e seguindo a velha política romana panis et circenses não importa se o estômago está doendo de fome, mas sim que o dinheiro do bolsa miséria vai ser providencial para comprar o ingresso do jogão do Brasil em 2014.

Saímos julgando tudo e a todos e assim culpamos os países desenvolvidos pelo aquecimento global, o capitalismo pela má distribuição de renda e Freud culpou até a sua mãe (e em consequência a dos outros) pelos males da psicologia. É claro que a culpa da crise econômica é toda dos políticos corruptos e o rombo na previdência é devido apenas à má administração dos recursos públicos e é óbvio, da corrupção, de novo. Mas ruim mesmo, é o senador que roubou a dinheirinho da merenda escolar, o outro que construiu um castelo e pasmem, sonegou os impostos. Enquanto isso, mulheres fingem-se de grávidas na fila do supermercado, a pobre velhinha viúva repassa a pensão do marido ao afilhado e contadores inventam mil e uma maneiras de livrar seus clientes do leão.

A verdade é que sempre que o relacionamento termina, o problema foi do outro que não soube nos entender, e é irritante como nossos pais que não conseguem enxergar que estão sendo totalmente intransigentes. O trânsito estressante porque "ninguém sabe dirigir direito", a rua alagada por conta do bueiro, que logicamente entupiu-se sozinho, e já disse que não foi eu quem deixou a luz acessa.

E a pergunta que não quer calar: até quando vamos continuar culpando os outros e vamos começar a assumir alguma responsabilidade ?

29 de mai. de 2009

Amor Rimado




Meu bem,
não vem assim
tão de mansinho,
com essa voz,
e riso baixinho
que eu vou me apaixonar.

Meu bem,
não vá assim
sem dizer nada
ainda sinto
sua risada,
seu cheiro
em minha almofada
onde sonho a lhe esperar.

28 de mai. de 2009

Se você soubesse... Ah, se você soubesse, mas que pena, você não sabe




Suspiro,
Suspiro supirado,
Açúcar de confeiteiro,
Batido,
Claras em neve,
Firmes,
Forno,
Calor,
Amor dourado,
Derretendo-se na boca.

26 de mai. de 2009

Vontade




Apago a luz,
Eu e você
e mais ninguém
Um beijo, um cheiro
Um recheio,
Vai e vem.

Acendo a luz,
E você ri,
Olho no olho,
Cara de gozo
Amor gostoso
Meu bem.

25 de mai. de 2009

Wish




Eu quero abraçar-te como nunca abraçei antes, deitar no teu colo, e passar meu rosto em tua barba macia. Quero teu carinho, tuas palavras e tua música. Quero-te de corpo e alma... quero-te... porque com ti, eu meu riso é mais leve, em ti a vida é mais leve, o ar tem gosto de sábado e os barcos navegam a procura dos portos. Em ti, por ti, com ti. Porque eu sinto sua falta, e estou tão cansada, não deveria ter te deixado ir...

Espera




Então,
Fecha a porta,
A casa,
A janela
E não me deixa mais entrar.

Que eu continuo,
Aqui inquieta,
Esperando você voltar.

3 de mar. de 2009

De noite na cama





é noite,
eu visto a roupa mais bacana,
maquiagem, curvex
e calcinha bem sacana.

é noite,
cabelo escondendo o rosto,
solto ao vento
fazendo jogo.

é noite,
minha pele na sua,
você do meu lado,
e eu nua.

2 de mar. de 2009

E lá, de novo e outra vez




É difícil começar. Sair da inércia incial que inunda, fazendo-nos ficar quietos no mais baixo nível da pelagem do coelho. É tão complexo, que não vi outro modo tal de inciar se não compartilhando a minha dificuldade em fazê-lo.

Não é o medo que me acanha. Não, não estou mentindo. O sentimento que me prende ao chão é uma agonia boba de se debruçar sobre o parapeito da janela para conseguir enxergar além. Além do quê ? Não sei. Não tenho ponto de referência se não eu mesma. Talvez seja isso mesmo, eu precise enxergar além de mim e única forma de fazer isso seja fazendo as pessoas enxergarem através do meu eu. Está dando pra acompanhar ?

Eu tenho esse pessimismo clariciano de tornar tudo mais complicado do que é, e me deparo com aquela velha frase sobre como escrever é duro tal qual quebrar rochas. Talvez tudo isso soe bem chato, mas eu sou uma pessoa meio chatinha mesmo e sendo isso aqui parte do meu mundo tinha que ser assim meio enfadonho mesmo...

Ou não... quem sabe melhore...