15 de jun. de 2009

Memórias de uma anoréxica

Há não muito tempo atrás um dia, em meio ao emaranhado de idéias eu lhe encontrei, luz altiva que me guiava pelos caminhos tortuosos. Você me ajudava tomar decisões, escolhas; a compreender que uma bolacha ao invés de duas, meia cenoura eram melhores que um cheeseburguer, não porque este último é mais calórico, mas porque essa opção me faria mais feliz. Andava em direção à sua luz, porque não sabia fazer de outra forma, qualquer outro caminho me levaria ao abismo e estava fadado ao fracasso. Sua luz me purificava, me trazia alegria e realização. Oh, Luz altiva, que me ajudava a discernir o certo do errado, o querer e o não querer. Me guiava pela sua certeza e segurava minha mão no momento de descontrole. Luz Imaculada, transformou-me em seu anjo guerreiro e lutei por sua causa até o fim, carregou-me junto a sua perfeição e me converteu em sua imagem e semelhança. Aplacou a ânsia de minha alma e trouxe a felicidade plena que tanto busquei.

Ainda que esta fosse a última opção, e ainda que fosse de fato insanidade, desistir não era uma possibilidade, apesar de tudo, era essa a realidade. No final de contas, tudo se resumia em quantos quilos foram perdidos e quantas calorias eram ingeridas. E mesmo que dissessem que estava tudo bem, e mesmo que tudo estivesse bem. Havia o abismo, o vazio e o nada; e também os fantasmas seculares que atormentavam nas noites frias. Suspiros errantes murmuravam verdades não ditas, palavras mal ditas que não deixavam serem esquecidas. Rimas antigas retornam, mas eram atenuadas pela doce brisa que soprava. Luz, pureza e sensibilidade, tudo o que faltava para sobrepor a mediocridade. O vazio inexplicável, e por mais que se tentasse não era preenchido.

Mais um dia, mais uma refeição, aflição que não acabava. Auto controle, poder sobre si mesmo, busca infindável pela perfeição que nunca chegava, porque menos era sempre mais e o céu, o limite. A gordura imaginária escondendo a verdade, criança lutadora que dissimulava a fraqueza por trás da força fingida. Fugir ? Impossível, cada segundo se traduzia na corrida contra a balança. Por que o peso? Porque a única liberdade que restava era a liberdade do corpo. Ele era meu e ninugém poderia interferir, no entanto, em oposição a isso, existiam todos os papéis e todas as máscaras utilizadas no cotidiano, e sim, elas sufocavam. Na busca pela essência, pelo real, perdi-me em mim mesma e as barreiras foram transpassadas. Medo? Jamais. As asas construídas não deixariam cair, existia a leveza para voar.

E nesse emaranhado de idéias eu me perdi, quebrei minhas asas, e caí, caí, caí até chegar no chão. É lá fiquei um bom tempo exorcisando todos os fantasmas perdidos da noite. E quando menos esperava tudo pareceu tão simples, tão bobo. Eu em mim, me bastava. Levantei, e segui em frente.

2 comentários:

Yaser Yusuf disse...

Achei bem intenso e ácido o texto acima...
Mas é uma triste realidade!
Gostei bastante do seu Blog!
Beijos!!

Ana disse...

(Lacinhos são mesmo bonitinhos mas esperar no sofa o dia inteiro não rola) Eu adoro o seu blog, adoro os seus textos, adoro copiar suas coisas pro meu (Sempre com seu link, é claro), adoro seus desabafos e todas essas luzinhas brilhantes que ficam perto do coração que você consegue colocar em mim. "Amor dourado, derretendo-se na boca."
PS: Se você quiser eu paro de copiar xD