4 de jun. de 2009

Os Outros




É fácil culpar os outros. É simples dizer que chegou atrasado porque o ônibus demorou, ou que a nota da prova foi baixa porque o professor é carrasco ou que engordou porque no mundo moderno a quantidade de gordura saturada nos alimentos é altíssima. Vivemos nessa sociedade paternalista, assombrados eternamente pelo dilema hegeliano do senhor e escravo, porque mesmo que tenhamos acesso à liberdade, será que a queremos de fato? Já diriam os ensimentos budistas que a ignorância é uma dádiva, e seguindo a velha política romana panis et circenses não importa se o estômago está doendo de fome, mas sim que o dinheiro do bolsa miséria vai ser providencial para comprar o ingresso do jogão do Brasil em 2014.

Saímos julgando tudo e a todos e assim culpamos os países desenvolvidos pelo aquecimento global, o capitalismo pela má distribuição de renda e Freud culpou até a sua mãe (e em consequência a dos outros) pelos males da psicologia. É claro que a culpa da crise econômica é toda dos políticos corruptos e o rombo na previdência é devido apenas à má administração dos recursos públicos e é óbvio, da corrupção, de novo. Mas ruim mesmo, é o senador que roubou a dinheirinho da merenda escolar, o outro que construiu um castelo e pasmem, sonegou os impostos. Enquanto isso, mulheres fingem-se de grávidas na fila do supermercado, a pobre velhinha viúva repassa a pensão do marido ao afilhado e contadores inventam mil e uma maneiras de livrar seus clientes do leão.

A verdade é que sempre que o relacionamento termina, o problema foi do outro que não soube nos entender, e é irritante como nossos pais que não conseguem enxergar que estão sendo totalmente intransigentes. O trânsito estressante porque "ninguém sabe dirigir direito", a rua alagada por conta do bueiro, que logicamente entupiu-se sozinho, e já disse que não foi eu quem deixou a luz acessa.

E a pergunta que não quer calar: até quando vamos continuar culpando os outros e vamos começar a assumir alguma responsabilidade ?

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